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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

JERÓNIMO CORTE-REAL

( Portugal )

 

Jerónimo Corte-Real (Lisboa?, c. 1533 — Évora, 15 de novembro de 1588)[1] foi um fidalgo da Casa Real, membro da influente família dos Corte Real, que se destacou como cultor do humanismo renascentista nos campos da poesia épica e da pintura.[2][3][4] Poeta bilingue, produzindo em português e em castelhano, celebrizou-se com o poema em vinte e um cantos, dedicado ao rei D. Sebastião, intitulado «Sucesso do Segundo Cerco de Diu, estando D. João de Mascarenhas por capitão da fortaleza», uma composição que celebra os feitos militares de D. João de Mascarenhas no cerco que a guarnição portuguesa da cidade de Diu sofreu em 1546.[5] Contudo, a obra que mais o imortalizou foi o poema intitulado «Naufragio de Spulveda ...», obra que mereceu várias edições e serviu de inspiração a múltiplos autores. Conserva-se (Códice Cadaval na Arquivo Nacional da Torre do Tombo) um manuscrito de «Sucesso do Segundo Cerco de Diu, ...», magnificamente ilustrado pelo autor. Biografia completa em :

https://pt.wikipedia.org/wiki/Jer%C3%B3nimo_Corte-Real

 

A TEMPESTADE

 

Cobre-se ó céu de grossas negras nuvens,
Os ventos mais e mais cada hora crescem,
Já se escurece o céu, já. com soberba
Inchadas grossas ondas se levantam.
A nau começa já passar trabalho,
Já começa gemer, e em tal afronta
O apito soa, brada o mestre, acodem
Com presteza varões no mar expertos.
Põe-se o fero Vulturno junto ao cabo,
Levanta lá no céu furiosas ondas;
Austro bramando corre ali com fúria,
Dando um balanço à nau que quase a rende,
Vem com grande furor Bóreas raivoso,
Comete por davante, o passo impide,
Encontra as grandes velas, e, por força,
Ao mastro as pega e a nau atrás empuxa:
Rompe-se por mil partes o céu, e arde
Em ligeiro, apressado, vivo fogo.
Um rugido espantoso vai correndo
Desde o Antárctico Pólo ao seu oposto.
Arremessam-se lanças pelos ares
De congelada pedra em água envolta;
Com espantoso ímpeto, e rasgadas
As densas negras nuvens raios cospem:
De um golpe as velas vêm todas abaixo.

                (In: Naufrágio de Sepúlveda)

 

 

OS CATIVOS

Vês o Mouro que vai naquele grande,
Poderoso cavalo ruço e leva
Revolto ao braço esquerdo um debém branco
E na robusta mão direita mostra
Brandir da mociça, grossa lança?
Contar-te quero dele um raro caso
Que cometeu, levando de furioso,
Cruel Amor passado o triste peito.
Entre aqueles cativos que vês juntos,
Guardados de valentes cavaleiros,
Vai u~a bela moçã. Queres vê-la?
Olha aquela que os olhos agravados
Das lágrimas virando vai ao Mouro
Que tal vista recebe, lá no meio
Do triste coração e alma afligida.
Transportado se chega, sem lembrança
Do perigo evidente, constrangido
De u~a dor insofrível, diz: “Não hajas
Medo, nem te pareça que com vida
Hoje pode ficar (indo tu presa)
Quem vive só de ver-te e de servir-te
Esforça-te, que temos grande o dia.

O poder de Deus o em, e neste braço
Está u~a força nova, que de ver-te
Neste perigo tal, sinto crescida.
E se o céu me negar favor, protesto
Morrer hoje no campo, que mais sinto
Ver-te levar assim a teus imigos
Do que posso sentir a cruel morte
Recebida por mim ante teus olhos.
Este coração já ao ferro agudo
Entregara, mas temo que, pois nele
Tão imprimida estás, ali recebas
Algum dano que o meu faça mais grave.”
Dizendo estas palavras, vai seguindo
O cerrado esquadrão da forte gente,
Conjunção esperando em que pudesse
Livrar quem o levava tão cativo.
A moça, mal segura das palavras
Que careciam ser mui duvidosas,
Lhe diz: “Nunca cuidei que um fim tão triste
Se guardasse a um amor tão verdadeiro.
Cinco anos me serviste e quando estava
O meu coração já ao teu sujeito,
A fortuna invejosa nos aparta,
Pondo-me em poder de meus imigos,
Onde em pura saudade estará sempre,
E em tormento cruel, esta alma minha.”
Após isto soltou de triste pranto
U~a mui copiosa e larga veia.
Aquela tenras lágrimas penetram
O coração ousado ao forte Mouro.
Determina morrer, e disto o rosto
Mostrou claros sinais, a cor perdendo.
Os olhos nela fixos, com esforço
E ânimo denodado, a voz levanta,
Favor pedindo a quem, com brandos rogos
E lágrimas, lhe vai favor pedindo.
Firma-se nos estribos, põe a espora
Com grão força ao cavalo, sai ligeiro,
Mais que furioso raio, e onde estavam
Os míseros cativos chega, e toma
Aquele por quem todo o caso grave
Lhe parecia ser fácil e leve.
Desta sorte a levou, sem lhe poderem
Resistir o furor que nas entranhas
O poderoso Amor lhe tinha aceso.
Alarga-se trás ele o esquadrão todo,
Segue-o com grande instância algum espaço.
Mas todo foi em vão este trabalho,
Que num instante o Mouro não é visto,
Porque o medo e o amor lhe deram asas.

 

 

 

CARTA DE MANUEL DE SOUSA

 

Se um brando e amoroso pensamento,
Que não se ocupa em mais que em contemplar-vos,
Lograra sempre tal contentamento
Se tivera de só imaginar-vos
O gosto, e só pudera merecer-vos
Amor por galardão de tanto amar-vos
Sem sobressalto e medo de perder-vos,
Não quisera outro bem, outra ventura,
Nem outra glória mais que sempre ver-vos.
Mas isto atalhou a desventura.
Tudo se me desfez, quando cuidava
Que vos tinha obrigada e mais segura,
Ah quanto ah quanto, triste, me enganava!
Com muito que este Amor vos merecia,
Quão depressa cheguei ao que receava.
Mil vezes a cansada fantasia
Seguir deixava um vão contentamento
Após o qual sem tento me subia.
Mostrava-me o ligeiro pensamento
Mil fantásticos bens (ah sorte dura!)
Que cuidando ser bens, tudo era vento.
Se imaginava ali naquela altura
Poder outro lograr-vos, me ficava
O sangue frio, a vida mal segura.
Ali um cruel ciúme me arrastava
Por fragosa aspereza est´alma minha
E já feita pedaços ma deixava.
Em passo tão estreito me convinha
Chamar por vós, senhora. Neste estado
A minha ímpia fortuna então me tinha.
Se aquele grave mal imaginado
De morte me cobria, este presente,
Sendo a tanta verdade já chegado
E posto em conclusão tão evidente,
Como, sem favor vosso, resistido
Será de quem a vida já não sente?
Vede o estado em que estou, onde o sentido
Continuamente trago afadigado,
De graves acidentes combatido,
Onde me traz a morte ameaçado,
Onde passo um cruel, duro tormento,
Onde ando com temor sempre assombrado,
Onde a minha esperança a leva o vento
E onde um contino mal, fero e terrível,
Sobressaltos me da cada momento.
Todo o bem para mim vejo impossível,
Perdida a ocasião com que passava
Tão levemente um mal tão insofrível.
Com ver-nos minha alma descansava
E ao ímpeto furioso resistia,
Quando Amor mais cruel se me mostrava.
Quando dele apenas recebia,
Só com ver-nos ficava tão contente
Que outro nenhum desgosto me vencia.
Mas agora que já me vejo ausente
De tanto bem e a tal termo chegado,
Vivo em contino e áspero acidente.
De u~a tristeza em outra sou levado
Até parar em ver-vos satisfeita
Com outro novo amor já confirmado.
Deste cuidado nasce u~a suspeita
Que vai de ponto em ponto abreviando
A vida a tais trabalhos tão sujeita.
Estou-vos, por meu mal, imaginando
Em grosseiro poder, e vos contente,
Meus serviços de todo desprezando.
Vejo-vos outra vida ali presente,
Outro amor, outro bem, outro marido,
Outro estado, outro ser mui diferente.
Vejo-me ali de vós já despedido
E vejo-vos, senhora, descuidada
De quanto mal por vós tenho sofrido.
Nesta mísera vida trabalhada
O dia passo triste, desgostoso
Passo noite importuna e dilatada.
Amor perverso, injusto e rigoroso,
Me traz então, por grande desventura
Minha, esse rosto alegre e tão gracioso.
Traz-me essa desusada formosura
E como me vê nela transportado.
Arrebata-ma e fico em sombra escura.
Tremendo fico todo e alienado.
Não sei se foi ficção, se foi verdade,
Se foi sonho ou se foi imaginado.
Tirando-me com tanta brevidade
O bem porque suspiro e me entristeço,
Torna com nova e estranha crueldade.
Representa-me estardes posta em preço,
A um interesse vil de todo atada.
Mostra-me dar-se a outro o que mereço
E a consentirdes tal, serdes forçada
Por um paterno, duro mandamento,
Por mais que Amor vos tenha a mim obrigada.
Aqui é o crescer da pena, aqui o tormento
Se mostra mais furioso, esquivo e forte.
Aqui do mal se vence o sofrimento.
Em mil gritos rebento, e a fera morte
(Noutro tempo cruel, então piedosa)
Chamo, e nega-ma a minha triste sorte,
Se agradecida sois quanto formosa.
Vede o que me deveis e esta lembrança,
O receio e suspeita rigorosa...

 

         (NAUFRÁGIO E LASTIMOSO SUCESSO DA PERDIÇÃO DE MANUEL DE
SOUSA DE SEPÚLVEDA, e DONA LEONOR DE SÁ SUA MELHER &
FILHOS, VINDO DA ÍNDIA PARA ESTE REINO....  1994)

 

 

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Página publicada em novembro de 2021


 

 

 
 
 
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